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Jejum e silêncio

“Nada para fazer

Nenhum lugar para ir

Ninguém para ser”


Esse era o mantra durante o retiro de jejum e silêncio que fiz por 9 dias no começo do mês de fevereiro. O mantra é um convite para dissolver a auto-imagem e o eu-fazedor.

Durante o retiro aprofundamos o processo de desidentificação com a mente e a percepção da pura consciência, do eterno Agora.


Vamos transcendendo as tendências da mente que fica oscilando entre gostos e aversões, buscando prazer e evitando dores ou desconfortos, e fica ora revivendo as memórias do passado e ora antecipando o futuro.


A mente não tolera o momento presente, porque neste momento ela perde sua função. Vivemos numa batalha psicológica a maior parte da vida com a mente acelerada, confabulando ideias, opiniões, julgamentos, trazendo memórias e projetando o futuro. Quando esse movimento desacelera podemos vislumbrar a sensação da presença e do silêncio, mas a mente resiste a esse estado de presença. O grande medo da mente é a sua desconstrução.


Tente permanecer no momento presente por um instante. Só observando sua respiração até que fique um silêncio interno.


Se você conseguir permanecer por alguns instantes vai perceber uma paz e satisfação naturais desta conexão com a pura presença.


Se você observou que sua mente já começou a tagarelar, neste exato momento da constatação da observação do movimento da mente você estava presente, mesmo que brevemente, estava além da mente, a observando.


Claro que podemos ampliar essa percepção e começar a descondicionar a mente.

A mente deve ser uma ferramenta que nosso Ser utiliza e não comandar a nossa vida.

Num retiro de jejum e silêncio esse treino é intensificado porque está só você e sua mente ali. E em situações de restrição a mente costuma reclamar e trazer os mais variados pensamentos de medo e controle. Foi um processão administrar essa batalha com muita auto-observação e entrega.


Aí a mente foi cansando, foi cedendo e a percepção do silêncio e da pura consciência ficando cada vez mais palpável. Até um estado em que qualquer movimento da mente era prontamente percebido e se dissolvia como um castelo de areia antes mesmo de completar uma frase. O som do silêncio se amplificou, e em alguns momentos uma espécie de dissociação acontecia, onde Eu era pura presença e observava esse corpo andando e respirando, essa mente tentando trazer algum conteúdo sem força para engajar, e Eu só era a vida pulsando em todas as sensações sem uma pessoalidade dominando a cena. Vivi momentos de graça e êxtase em unidade com as sensações e com a percepção da experiência da Vida. Momentos preciosos que as palavras não podem expressar como filtros simbólicos da totalidade.



Claro que não é todo mundo que sente um chamado para esse tipo de retiro. Mas esse treino de descondicionamento da mente também pode ocorrer com um processo terapêutico e meditativo onde vamos desbravando as estruturas da mente e treinando técnicas de desidentificação das mais variadas formas. Assim eu conduzo os processos terapêuticos transpessoais, abordando os conteúdos mentais e emocionais que emergem, mas ampliando o olhar para além deles.


Deixo algumas reflexões para você começar ou aprofundar a observação dos seus padrões mentais. E também alguns antídotos para sair deles.


*você escuta a voz ou vozes da sua mente num eterno monólogo ou diálogo interno?

Acredite: você não é essa voz! Comece a observá-la.


*você percebe que tem frequentemente pensamentos e sensações de culpa, arrependimento, ressentimento, injustiça, amargura e dificuldade de exercer o perdão?

É sinal que sua mente está revivendo o passado. Comece a soltar e aceitar plenamente o que foi.


*você percebe que tem frequentemente pensamentos e sensações de estresse, ansiedade, preocupação, tensão e todas as formas de medo?

É sinal que sua mente está excessivamente no futuro. Comece a confiar na vida, na impermanência e soltar o controle.


*você sente a necessidade de estar certo.a nos seus argumentos, defender suas ideias e opiniões com unhas e dentes?

Perceba a fragilidade da mente que não suporta a ideia de estar errada, de ser desconstruída e precisa se provar a qualquer custo.

Comece a relaxar mais no não-saber, ficar mais confortável com o mistério e construir uma firmeza que não vem das convicções mentais.


Esse treino de dissolução do controle da mente sobre nossas vidas é um grande processo de discernimento da nossa verdadeira natureza e uma grande libertação das correntes da mente.


Última dica: não espere muito para começar! :)



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