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Precisamos falar sobre dinheiro

Muitos tabus envolvem o assunto dinheiro. Isso porque no desenvolvimento da nossa sociedade o dinheiro tomou uma perspectiva complicada, que precisa ser ressignificada.


Muitas relações de poder e manipulação se estabeleceram, muitas crenças foram sendo alimentadas formando paradigmas específicos em relação ao julgamento se dinheiro é bom ou mau. Temos visões religiosas que pregam a humildade e o desapego como um caminho para o paraíso, como também temos visões que favorecem um modelo de sucesso espiritual relacionado com sucesso financeiro.


Carregamos geneticamente a herança do medo da escassez, nossos ancestrais tinham motivos reais para sentir esse medo. Em épocas mais longínquas os recursos eram limitados e qualquer imprevisto da natureza causava muita escassez. Num passado mais recente, nossos antepassados que vivenciaram as grandes guerras no último século, mesmo que não presencialmente, sentiram o medo e a restrição de possibilidades.


Essa crença de medo da escassez está em todxs nós, em algumas famílias e alguns contextos mais do que outros, mas compartilhamos essa informação coletiva. As expressões disso podem se manifestar de diversas formas, nossa loucura de consumismo também é reflexo desse estado interno coletivo, somado à muito vazio existencial, mentalidade de competição e muito marketing se apoiando nessas questões psicológicas.


artista @sakoasko no instagram

Esse cenário complexo em relação à dinheiro também se reflete na questão de igualdade de gênero. Na sociedade contemporânea ter dinheiro é ter poder, ter liberdade de escolha. Então fica fácil de entender o lugar de uma boa parcela de mulheres que ficam presas em situações com ações limitadas.


Segundo a ONU mulheres o empoderamento feminino é a “ampliação da liberdade de escolher e agir. Podendo definir objetivos, adquirir competências e prover o próprio sustento”.


Estamos numa nova fase do movimento feminista, num momento de denúncias, mas também de maior compreensão e acolhimento dos traumas e começando a planejar melhores diálogos e ações para continuar esse movimento.


Tem muita coisa acontecendo e muitas experimentações de como faremos esse empoderamento de forma mais participativa. A facilidade de comunicação com as mídias sociais expandem os movimentos globalmente. O movimento #metoo cresceu e continua atuante mundialmente. A Malala também faz um trabalho incrível sobre empoderamento feminino com acesso à educação. Entre outros exemplos...


Mas ainda vivemos numa realidade em que as meninas tem mais dificuldade de terminar os estudos, e isso indica menores chances de acesso à liberdade de escolhas e ações. É ainda mais crítico considerando que para as profissões do futuro serão necessárias habilidades e conhecimentos técnicos em programação, robótica e TI, áreas mais restritas ainda para meninas. Olha esse levantamento.


Também tive uma experiência interessante que quero compartilhar. Fui convidada para entrar numa mandala de prosperidade feminina. Rola pelo whatsapp, é uma mandala dos 4 elementos e um fluxo de doação e recebimento multiplicado de um determinado valor. Essa que participei era R$126 para entrar, retornando 8x esse valor. Foi uma experiência válida por conhecer mulheres do Brasil todo, sentir como estão se relacionando com as questões do empoderamento, abrir espaços de conversas sobre prosperidade financeira entre mulheres, ver que algumas mulheres usaram a grana para fazer cursos de capacitação em terapias, outras tiveram apoio com terapias e conversas para momentos mais frágeis e até meditação coletiva rolou.


imagem do instagram @tullime, mas não sei a artista

Porém, a logística do movimento parece não se sustentar, acho que é aquele esquema pirâmide, não pesquisei a fundo, mas o fato é que parece precisar de um ritmo de crescimento exponencial e em 10 dias os grupos que eu estava conectada começaram a travar. Algumas quiseram sair, como foi meu caso, e redistribuímos a grana. Também fiquei sabendo de casos de mandala em que o valor da entrada era muito maior (R$5.000) e também colapsaram em algum momento, trazendo prejuízo e decepção para algumas mulheres.


Algumas amigas falaram: podia rolar o movimento de conexão e grupos, mas sem o dinheiro. Também acho, na verdade já rola, muitos grupos por aí. Mas por que não dinheiro? Não desse formato, não nessa logística piramidal, mas sim, precisamos falar sobre dinheiro, e se possível precisamos redistribuir. Economia participativa e solidária não precisa partir de cima, de alguma instituição ou governo. Já participei de financiamentos coletivos, faço doações para campanhas específicas, considero que é uma forma de facilitar o acesso de outras mulheres à escolhas e ações empoderadas.


Essa mandala pode ser uma tentativa que não deu certo, vamos tentar muitas coisas ainda nesse processo. Mas é essencial olharmos para nossas crenças e sentimentos em relação à dinheiro. A prosperidade não deve ser observada somente como financeira, temos muitas formas de receber presentes, bênçãos e crescimento na vida, mas com certeza olhar para o dinheiro de forma mais leve vai facilitar muito esse fluxo.

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